domingo, 31 de janeiro de 2016

Capítulo 2- Reencontros

Virei meu pescoço para trás e vi a Cecília, aparentemente emocionada
Helena: Painho, me coloque na cadeira de rodas, quero falar com Cecília!- ele fez o que eu pedi e me pôs sentada na cadeira, Cecília se aproximou de mim, abaixou-se e me olhou, chorando e sorrindo ao mesmo tempo
Cecília: Princesa, como você tá?- fez carinho na minha perna amputada
Helena: Vou começar uma luta de sobrevivência, á partir de hoje, na verdade, desde que tudo aconteceu- liberei minhas lagrimas e ela também- E você?
Cecília: Assim como você, vou começar uma luta de sobrevivência, mas você sabe que temos uma á outra, né? Vou cuidar de você, assim como Percol me dizia que cuidava, amor, carinho e a minha amizade não vão te faltar!- segurou minhas mãos e apertou as mesmas- Vai pro velório?- assenti
Helena: O mínimo que eu posso fazer por todos eles é me despedir, acho que vai me ajudar á entender e encarar a realidade, vai me fazer perceber que não é um pesadelo que ele, realmente, se foram!
Cecília: Infelizmente, a nossa nova realidade está chegando daqui á- olhou em seu relógio de pulso- menos de meia hora, pronta pra enfrentar?
Helena: Eu espero estar preparada, mas como você falou, temos uns aos outros, isso já vai ser um grande passo!
Cecília: Com toda certeza vai ser mesmo, quer esperar aqui comigo?- alternou seus olhares entre mim e os meus pais, acho que pedindo uma certa permissão á eles caso a minha resposta fosse positiva
Mauro: Eu acho melhor não, vamos logo pro Palácio, é melhor você chegar antes do tumulto, filha!- fez carinho no meu ombro
Helena: Pai, eu quero esperar aqui, por favor, prometo que só te faço mais esse pedido hoje!- escutei minha mãe sorrindo, ela me conhece bem e sabe que essa minha promessa andou longe de ser verdade
Mauro: Sem mais pedidos por hoje, Helena, por favor!- rimos- Podemos ir indo pro Palácio?- olhou pra Cecília
Cecília: Podem sim, Helena fica comigo, eu cuido dela direitinho, tá? Não se preocupem!- piscou pros meus pais
Helena: Vamos pra sala em que estão todos esperando?- veio para trás da minha cadeira, obviamente ela iria empurrá-la
Cecília: Vamos sim, eu só vi vocês porque saí pra beber água, vamos?- assenti, me despedi dos meus pais, eles entraram no carro, saíram e a Cecília me levou até porta de uma sala vip que havia no aeroporto
Helena: Cecília, espera um pouco, por favor!- pedi antes que ela pudesse abrir a porta da sala
Cecília: Que foi, minha princesa, está sentindo alguma coisa?- se abaixou me olhando preocupada
Helena: Não sei se tô preparada pra enfrentar todo mundo, como eu vou explicar pra Renata que eu fiquei? Como vou falar pra Zé que eu não fui com o pai dele? Logo pra Zé que sempre dizia que eu era a companheira inseparável de Eduardo, eu não tenho força pra isso, Cecília, não tenho!- desabei mais uma vez, a porta da sala foi aberta, eu vi Augusta saindo da mesma e me surpreendendo com um abraço, eu não conseguia falar nada, apenas chorar
Augusta: Porque ela tá chorando assim, Cecília? Calma, Leninha!
Helena: Eu não vou conseguir entrar, não vou conseguir encarar todos eles, não vai dar!
Cecília: Calma, Helena, ninguém vai te julgar, todos sabem que são os planos de Deus, vamos entrar, Renata está ansiosa pra te dar um abraço, seja forte!- as duas enxugaram minhas lagrimas e ficaram fazendo carinho nas minhas mãos- Pronta pra entrar?
Helena: Guta- olhei pra Augusta- fica do meu lado, por favor, não me deixar sozinha e, desculpa, eu sei que era pra mim ter ido também, eu queria ter ido com eles, desculpa por não ter cuidado deles até o final, desculpa!
Augusta: Helena, para com isso, você não teve culpa do que aconteceu, ninguém vai te julgar e, pode entrar tranquila, eu não vou sair do seu lado, vou ficar sempre juntinha de tu lá dentro, visse?- enxugou algumas lagrimas que ainda escorriam pelo meu rosto- Cecília pode abrir a porta?- assenti, Cecília abriu a porta e Guta empurrou minha cadeira, entrei na sala de olhos fechados, eu não queria encará-los, não sabia o que eu ia falar, só me restava pedir desculpa- Abre os olhos, Leninha, tem muita gente aqui querendo te abraçar!- abri meus olhos lentamente e, foi o suficiente pro meu olhar se cruzar com o olhar de Pedro, nunca tinha visto ele com um olhar tão triste
Pedro: Eu queria tanto te dar um abraço, te falar que você pode contar comigo pra tudo, eu vou estar do seu lado e você vai seguir em frente, tá? Todos nós vamos cuidar de você!- ele beijou a minha testa e se abaixou na frente da minha cadeira
Helena: D-d-d-d-des-culpa, Pedro, eu não queria, não era pra isso ter acontecido, desculpa, por favor, me perdoa!- pedi desesperadamente
Pedro: Porque tu estais me pedindo desculpa, Helena? Desculpa por ter nos dado a alegria de ainda estar aqui entre a gente? Não perca seu tempo pedindo desculpa, use esse tempo para agradecer, agradecer porque você estar viva, assim como nós agradecemos porque você está entre a gente, para de se culpar por algo que não teve um culpado, por favor!
Helena: Era pra mim ter ido com eles, eu prometi á sua mãe, prometi á Cecília, prometi que cuidaria deles e deixei eles irem, eles foram e eu fiquei, Pedro, foi uma falha minha, eu não poderia ter ficado, não poderia!
Renata: Minha princesa, uma filha minha e de Eduardo, era e agora mais do que nunca vai ser um exemplo de força pra todos nós, ninguém te julga muito menos te culpa, você cuidou muito bem de Eduardo, de Percol e de todos eles, você foi feliz com eles e fez com que eles fossem felizes com você, não existe um culpado, existe um plano de Deus, fique tranquila, ninguém aqui te julga, nós apenas te amamos e prometemos que vamos estar do seu lado, sempre!- sabe aquela vontade imensa de levantar e abraçar essa mulher maravilhosa? Infelizmente, eu não posso, mas acho que posso pedir um abraço, né?
Helena: Me dá um abraço, por favor, só peço isso pra senhora!- ela riu, enxugou minhas lagrimas e me abraçou como pôde
Renata: Nós te amamos tanto, minha pequena, tenho certeza que Dudu está feliz e que vai ser teu anjo lá encima, ninguém vai cuidar tanto de você quanto eles, fique ciente disso e sem culpas, todos te amavam!
João: Mainha tem toda razão, Leninha, nós te amamos e vamos estar sempre do seu lado, sempre mesmo!- eu sorri fraco pra ele e recebi um beijo demorado na testa- Posso dar um abraço também?
Helena: Pode sim, João, quer dizer, pode não, deve!- rimos e ele me deu um abraço apertado, tão parecido com o pai, acho que a personalidade é a mesma- Zé?- chamei-o, ele estava encolhido numa cadeira, no cantinho da sala-  Vem me dá um abraço? Eu preciso que você me perdoe por ter quebrado a nossa promessa!- ele levantou e veio até mim
João: Que promessa?
Helena: Eu prometi á Zé que cuidaria de Eduardo, que todas ás vezes iria trazer ele de volta pra casa, era assim que a gente fazia quando chegava no aeroporto, a passagem por Dois Irmãos já era certeza, eu tinha que dar carona pra Dudu- sorri ao meu lembrar de como a nossa rotina era perfeita, que saudade, meu Deus! Zé me deu um abraço
Zé: Você cuidou dele enquanto pôde, Helena, agora, eu tenho certeza que painho vai cuidar de você, eu te amo!- ele ficou ali do meu lado, sempre me fazendo carinho, um carinho tão bom, tão igual ao pai também, todos eles tem um pouquinho de Eduardo, é incrível. As outras pessoas que estavam na sala vieram me cumprimentar a espera por esses aviões estava me torturando, peguei meu celular, minha única tentativa de passar o tempo, abri minha galeria e comecei á relembrar momentos, foi impossível conter algumas risadas, foram tantos momentos, tantas alegrias, é tanto pra agradecer, meu Deus! Escolhi uma foto minha e de Percol, resolvi escrever algo pra ele também, resolvi postar, estou com saudades, preciso me expressar


helena_monteiro “Tchinha, bora tirar uma foto?” ele sempre me pedia uma foto, eram as fotos enviadas pra Cecília e para meus pais, todos os dias tínhamos essa mesma obrigação, uma foto. Agora, me vejo aqui com milhares de fotos e sem saber o que fazer com todas elas, cada uma com uma saudade diferente, cada uma em um lugar diferente, os sorrisos tinham motivos diferentes, todos os dias a gente ganhava um motivo á mais pra sorrir, “tchinha, vou falar pra outra tchinha que nós estamos bem, felizes e com o futuro presidente da Republica”, você falava isso e olhava pra Eduardo, arrancava nossas melhores gargalhadas com essa sua positividade, com uma perseverança e um otimismo que causava inveja em muita gente, você pensava pra frente e só andava pra frente, era incrível, eu te falava tanto que quando crescesse queria ser como você e Cecília, os melhores jornalistas, você prometeu que entraria comigo na minha missa de formatura e Eduardo brincou com a gente “O painho de tchinha vai se arretar, visse?” nós dois gargalhamos e você se gabou, disse que eu te amava, é meu amigo, você não mentiu, eu te amava e ainda te amo, tô aqui á dias tentando entender a tua ausência, tentando compreender que você está em um lugar melhor e ao mesmo tempo pensando que o melhor lugar era aqui. Você e Cecília. Você e eu. Você e nós, qualquer lugar do mundo que eu ainda tivesse o seu sorriso e a sua amizade seria o melhor lugar do mundo pra mim. Cuida de mim, meu anjo, as suas tchinhas vão cuidar uma da outra aqui, visse? Te amo, minha maior saudade! Com amor, a tchinha Helena.
Evitei ler os comentários, fui confortada por um abraço de Cecília, ela sentou em uma cadeira ao meu lado
Cecília: Ele amava a maneira como você escrevia, era apaixonado pela tchinha Helena, sabia? Tenho certeza que sorriu ao ver suas palavras, era tanto amor!
Helena: Eu sinto que ele sorriu, eu também era apaixonada por ele, um exemplo pra mim, eu amava seu marido!- nós duas sorrimos
Eduarda: Era impossível não amar Percol, tava sempre ao lado de painho!- se juntou á nós e ficou me fazendo carinhos, eu me sentia tão amada por eles, meu Deus. Meu celular apitou, peguei o mesmo e vi uma notificação do instagram, a Cristina havia me marcado em uma foto, olhei-a, já que ela também estava na sala e ela sorriu
Cristina: Foi com muito amor- assenti e li o que ela havia escrito

cristina40mello Quem escuta o seu nome já imagina ver você sorrindo, quem vai até a sua casa sabe que vai te encontrar sorrindo, você sempre foi teimosa, sempre lutou pelo que desejava, sempre  encantou á todos com seu jeito único e sua personalidade sem igual. No momento do acidente nós imaginamos oito percas, passamos á imaginar nossas vidas sem o sorriso de Helena, eis que surge você com toda a sua teimosia, o nosso presente de Deus, o nosso conforto em meio á tantas dores, você conseguiu, nós ainda te temos, um sorriso restou, o mais encantador, sem duvidas. Nós sabemos que a sua batalha não vai ser fácil, vai ser dolorosa, cruel, mas repleta de muito amor, muito companheirismo e de muita determinação, estaremos sempre ao seu lado, não importa o que aconteça, conte com o nosso apoie e com nosso amor. P.S: as crianças querem cuidar de você. Te amamos muito! @helena_monteiro
@helena_monteiro Eu não tenho palavras pra vocês, eu sempre vi apoio em você, em Geraldo e, nos meninos via meus sobrinhos, minhas crianças, é tão bom saber que vocês estão comigo nesse desafio, não vai ser fácil, mas se vocês vierem comigo, eu vou vencer! Amo muito vocês!

 Comentei a foto de Cristina e fomos informados que os aviões haviam chegado, nos preparamos para o desembarque dos caixões e foram saindo pra pista de pouso
Cecília: Tem certeza que quer ir, Leninha?- perguntou ao se levantar pra empurrar minha cadeira
Helena: Essa pergunta serve pra você também, né? Nós precisamos ir e temos obrigação de sermos fortes!- ela riu fraco e nós saímos da sala, seguimos as instruções até chegarmos na pista de pouso, os caixões já estavam sendo retirados- Vai lá, Cecília, vai receber Percol, nem que seja pela ultima vez, eu fico aqui no cantinho!- ela soltou minha cadeira e fez o que eu pedi, fiquei observando a cena, acho que eu nunca vi cena mais triste em toda a minha vida, eu nunca senti tanta dor, um arrepio percorreu meu corpo só de imaginar que um desses caixões poderia ser o meu, que eu era a única sobrevivente, alguém fez carinho no meu ombro, dei uma olhada e vi Guta chorando- Não se preocupe comigo, vá ficar ao lado de Pedro, ele precisa de você, Gutinha, eu tô bem aqui!
Augusta: Eu sei que não, Helena, eu te conheço essa pose não vai combinar comigo, eu vou ficar aqui com você, tem muita gente com Peu ali, ele tá mais calmo, quer ir pra lá?- apontou pro carro de bombeiros onde estavam colocando o caixão de Eduardo
Helena: Melhor não, eu só vou causar tumulto ali, atrapalhar, pode ir ficar lá com eles, eu tô bem, te juro!
Augusta: Se você não quer ir pra lá, eu fico aqui com você, pronto!- eu dei um risinho fraco por conta da insistência dela, ficamos ali, observando de  longe  até a hora da saída dos carros quando João se aproximou da gente
João: Helena, você vai no carro do corpo de bombeiros com a gente, vamos?- assenti, esperava que ele ou Augusta empurrassem minha cadeira, mas ele me surpreendeu me pegando no colo- Assim é mais rápido- fez carinho no meu cabelo
Helena: Eu deveria ter ido com meus pais, fiquei aqui só pra dar trabalho, né?- ele não falou mais nada, olhei pra trás e vi Guta empurrando minha cadeira de rodas, João me colocou sentada ao lado de Renata, dentro do carro do corpo de bombeiros e, ao me ajudar á pôr o cinto de segurança deu um beijo demorado na minha testa
João: Coloca uma coisa na sua cabeça, cuidar de você não é trabalho nenhum e, você ter ficado aqui fez um bem danado pra todos nós, viu baixinha?


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Capítulo 1- Saída do hospital + Chegada á Recife

17 de agosto de 2014, São Paulo, Brasil
Depois de dois dias internada, finalmente, o medico resolveu assinar minha alta, daqui, saio direto para o aeroporto, não vejo a hora de chegar em Recife, eu sinto necessidade de tantos abraços, sinto necessidade de pedir desculpa á tantas pessoas, eu sei que Deus me deu uma nova oportunidade, uma nova chance, mas não me conformo que meus companheiros não tenham tido a mesma chance que eu, porque eles se foram? Essa é a pergunta que tenho me feito todos os dias, não sei como vai ser aprender á conviver com a ausência deles, ainda não consegui assistir televisão, acessar as redes sociais? Nem pensar, eu tenho medo, medo do que me espera, medo do que me aguarda, não a opinião das pessoas sobre a tragédia, quero deixar pra saber sobre esse assunto, apenas, quando já estiver em Recife, lá, tenho certeza que a saudade vai aumentar ainda mais, todos os cantos do Pernambuco carregam uma lembrança de Eduardo, daquele que tinha um sorriso lindo e uma alma repleta de sonhos, me sinto grata por ter sido escolhida para fazer parte da luta pela realização de todos eles. Estou me preparando para receber a visita de Paulo Câmara e de Geraldo Júlio, duas pessoas maravilhosas que Deus colocou no meu caminho, primeiras pessoas, depois dos meus pais, que eu vou ver e ter algum tipo de contato após a tragédia
Monise: Filha- abriu a porta do meu quarto e colocou apenas a cabeça para dentro- Eles já podem entrar?
Helena: Claro que podem, mainha- ri fraco- Deixa eles entrarem logo!- minha mãe sorriu, logo a porta se abriu de vez, logo Geraldo, Paulo e meu pai adentraram pela mesma, meu pai se aproximou da cama dando um beijo na minha testa
Mauro: Conseguiu dormir melhor essa noite, pequena?- fez carinho no meu cabelo
Helena: Acho que sim, painho, as dores estão diminuindo, o medico falou que é normal, tudo vai voltando ao normal, né?- tentei falar isso pra mim mesma, apesar de saber que, talvez, minha vida nunca voltará ao normal, até porque, nem sei se isso é possível
Paulo: Ô minha pequena, a gente consegue se alegrar em meio á tudo isso por saber que, pelo menos, você permaneceu com a gente, por saber que você continua aqui!- ele se aproximou de mim e fez carinho no meu cabelo, escutar a voz de Paulo já foi o suficiente pra me fazer chorar
Helena: Ás vezes, eu preferia ter ido junto com eles, tá sendo tão complicado me conformar com tudo isso, Paulo, tão difícil!
Geraldo: Não fale isso nem brincando, Deus te deu uma nova oportunidade, você tem que agradecer e aproveitar bastante, você tá viva, Helena, só isso que deve importar agora e nada mais!- segurou minha mão fazendo carinho na mesma
Monise: Eu já falei pra ela parar com essas bobagens, ninguém foi culpado pelo que aconteceu, foram os planos de Deus e você precisa entender isso, Helena, precisa parar de se queixar e aproveitar a chance que você está tendo, minha filha!
Helena: Eu sei, gente, desculpa, mas é que muito complicado, vocês sabem o quanto eu era apegada á Eduardo e á Percol, na verdade, eu era apegada á todos eles, mas esses dois tinham um carinho tão enorme por mim, me tratavam com uma filha, tá sendo difícil saber que eles não estão mais entre a gente, muito difícil mesmo!
 Paulo: Está sendo difícil pra todos nós, Helena, mas é momento de juntarmos as forças e nos ajudarmos, portanto, nós não queremos que você fraqueje, queremos te ver firme e forte, porque sabemos a quantidade de batalhas que você tem pela frente!
Helena: Só de saber que eu vou poder contar com vocês eu já me sinto mais forte, visse? Obrigada por terem vindo me visitar- eles sorriram- Quando vão liberar os corpos? Alguma previsão?- minha mãe abaixou a cabeça, vi que todos ficaram nervosos
Geraldo: Vão liberar os corpos hoje á tarde, Leninha, assim que liberarem, nós vamos embarcar pro Recife, já tá tudo preparado pro velório
Mauro: Filha, mas você não vai poder ir ao velório, certo? O medico recomendou repouso e, assim que chegarmos em Recife você vai direto pra casa!
Helena: É obvio que não, pai, eu vou pro velório sim, eu preciso me despedir deles, por favor, não faz isso comigo, eu preciso disso- pedi chorando descontroladamente, o Paulo me deu um abraço apertado
Paulo: Não chora assim, eu vou te levar pro velório, vamos ver se o medico permite, ok? Fica calma, não precisa chorar!- ficou me fazendo carinhos e, aos poucos eu fui me acalmando, até que o doutor Lucas, médico que estava cuidando do meu caso, entrou no quarto
Lucas: Vejo que a minha paciente mais linda recebeu visitas hoje, né?- riu- Bom dia, dona Helena, como a senhorita está se sentindo?
Helena: Bem melhor, graças á Deus, não senti mais nenhum incomodo no local da cirurgia, isso é bom?- fiz careta e todos sorriram
Lucas: Isso é maravilhoso e , você vai ficar ainda melhor quando escutar a noticia que eu tenho pra te dar- olhou pra minha mãe e piscou pra mesma
Monise: E qual seria essa noticia, doutor Lucas?
Helena: Essa até eu sei- ri- a Michelly- enfermeira responsável por me acompanhar- me falou ontem á noite que o doutor Lucas vai assinar minha alta hoje!
Lucas: Nossa, como a Michelly é estraga prazer, né? Tinha nada que ter contado, era pra ser uma surpresa, mas e aí? Ficou feliz?
Helena: Fiquei menos triste, vou mesmo poder ir pra casa?
Lucas: Sim, senhorita, vai poder voltar pra Recife hoje mesmo, está liberadíssima, mas daqui á uma semana, quero você aqui, pra gente fazer uma revisão e ver quando podemos marcar a próxima cirurgia, certo?
Helena: Melhor que nada, né? Passar uma semana sem ter que te ver já vai ser maravilhoso- rimos- Brincadeira doutor, eu só tenho que agradecer por o senhor ter cuidado tão bem de mim, por ter me acolhido tanto!- ele riu- Obrigada!
Paulo: Aproveitando o momento, né? Doutor, eu posso levar a Helena para acompanhar o velório? Vai ser muito importante pra ela!
Lucas: Eu não vejo problema algum, desde que seja na cadeira de rodas, ainda não é indicado que ela ande de muletas, precisamos providenciar a fisioterapia para que ela comece á se adaptar com a nova realidade, tudo bem pra você, Helena?- olhou-me
Helena: Eu só quero estar lá, não importa como, eu só preciso me despedir deles!
Lucas: Então, já que estamos resolvidos, eu vou assinar a alta da minha paciente preferida, pode começar á arrumar suas coisas, senhorita Helena!- veio depositar um beijo na minha testa- Se cuida e seja muito forte, tá? Você consegue!- assenti e beijei a bochecha dele, doutor Lucas se tornou um amigo e tanto pra mim, o que ele fez, eu jamais vou esquecer
Geraldo:  Acho que nós cumprimos a nossa missão, né Paulo? Viemos buscar a pequena no hospital!- eles dois sorriram e fizeram um toque, eu sorri junto, sempre brincalhões
Helena: Mãe, você me ajuda á trocar de roupa?- olhei-a e a mesma assentiu
Paulo: Acho melhor a gente sair do quarto pra senhorita ficar mais á vontade, né?- eles riram e saíram do quarto, eu troquei de roupa com a ajuda da minha mãe
Monise:  Consegue prender o cabelo sozinha ou quer que eu prenda?
Helena: Faz uma trança? Meu cabelo tá muito bagunçado, não vejo a hora de poder lavá-lo- fiz careta e ela riu
Monise: Posso chamar seu pai?- perguntou assim que terminou de prender meu cabelo, eu assenti, ela chamou meu pai, logo ele, Paulo e Geraldo entraram no quarto, meu pai entrou empurrando uma cadeira de rodas
Mauro: Preparada pra sair daqui, pequena?- olhei pra cadeira, minha nova realidade, respirei fundo e assenti, meu pai me pegou no colo e colocou-me sentada na cadeira, foi impossível conter minhas lagrimas
Geraldo: Daqui pra frente, é vida nova, qual você quer que seja o seu primeiro passo?- fez carinho no meu ombro
Helena: Comer, porque eu não suporto mais comida de hospital- eles riram- E, acho que mereço um celular novo, né painho?
Paulo: Isso ele não vai precisar fazer, antes de vir pra cá, eu quis comprar um presente pra você e, resolvi comprar um celular, será que eu fiz bem?
Helena: Cê fez bem até demais, visse? Preciso me atualizar do mundo
Paulo: Tá lá no carro o celular, conseguimos até por o teu numero antigo no chip novo, porque eu e Geraldo somos demais!
Monise: Não precisava vocês terem se incomodado, gente, meu Deus!- falou todo tímida, saímos do hospital e fomos pro estacionamento
Michelly: Ia embora sem se despedir de mim, Leninha?- me deu um pequeno susto e eu sorri
Helena: É obvio que não, já ia perguntar por você e pelo chato anjo do doutor Lucas!
Lucas: Me caluniando pelas costas outra vez, senhorita?- eu pus as duas mãos na boca e sorri- Mesmo você sendo mal agradecida, eu comprei uma lembrancinha pra você!- me entregou uma caixa de bombons
Helena: Não precisa, Lucas, meu Deus, que amor, você é um fofo!
Michelly: Ele só é fofo com quem ele quer, portanto, se sinta muito honrada por isso, viu?- rimos
Lucas: Isso mesmo, muito honrada!
Helena: Como vocês são chatos, credo!- eles riram, me despedi dos dois, agradeci por tudo que eles fizeram por mim, meu pai me colocou no carro, Paulo me entregou o celular- Uau, ganhei um iphone 5s, tô podendo!- ri- Obrigada!
Geraldo: Agora, vamos alimentar essa moça, né?- eu ri, resolvemos ir almoçar no Paris 6 e assim fizemos, no caminho eu restaurei minhas fotos, aproveitei pra escrever algo sobre Eduardo e sobre o acidente, eu precisava desabafar, expor o que eu estava sentindo, acho que essa seria a melhor forma, então comecei á escrever
-P.O.V João-
Já faz dois dias que estamos á espera dos corpos do acidente, é uma espera que não tem fim, algo torturador, não suporto mais ver o sofrimento dos meus irmãos, os corpos chegam hoje, acabei de falar com Paulo pelo whatsapp ele disse que a Helena acabou de ter alta do hospital, fiquei feliz por ela, é uma menina tão jovem, meu pai era encantado por ela, na verdade, toda a nossa família é encantada por ela, tive meus pensamentos interrompidos pela Cristina, esposa do Geraldo, sentando ao meu lado no sofá da sala de nossa casa
Cristina: Posso saber por onde anda essa cabecinha?- alisou meu ombro
João: Na verdade, nem eu sei, pensando na vida, em como tudo era antes e em como tudo vai ser agora, na saudade que ele deixou- não consegui segurar minhas lagrimas- Cadê mainha?
Cristina: Sua mãe está no quarto, descansando, vai descansar também, hoje a nossa noite vai ser longa!- assenti, ela levantou do sofá, peguei meu celular e, logo o Pedro sentou o meu lado
Pedro: Você precisa ler o que acabaram de postar, acho que de todos os textos que nós já lemos esse foi o que mais me tocou, olha isso!- me entregou o celular, estava aberto em uma postagem do instagram feita pela Helena


helena_monteiro “Seu Mauro, eu quero que sua filha trabalhe comigo, visse?” Foi mais ou menos assim que a nossa historia começou, falo a nossa historia profissional, pois a nossa historia de vida vem de muito antes disso, tínhamos muita historia juntos e ainda tínhamos tanta historia pra construir, é Eduardo, Dudu, eu não consegui acreditar que você se foi ainda, eu sei que são planos de Deus, mas ainda não consegui entender esse plano, porque logo você? Porque logo vocês? Tenho me feito essa pergunta todos os dias, não é fácil aceitar, não dá pra compreender, mas sei que terei que me conformar com tanta ausência, com tanta saudade, com tanta dor, com essa falta imensa que vocês vão me fazer. Já sinto saudade das viagens, naquele mesmo que me tirou vocês, já sinto saudade das nossas risadas, já sinto saudade de nossos chefe perguntando qual seria a nossa agenda do dia, já sinto saudade de vocês, é só um pesadelo ou vocês se foram mesmo? Alguém me acorda, por favor, me faz voltar pro dia em que nossa equipe foi “formada” lá no Palácio do Campo das Princesas (dia em que essa foto foi tirada), me faz voltar pra quando eu tinha vocês e a gente sonhava juntos, a gente praticamente respirava juntos, era uma cumplicidade sem igual, imagino a bagunça que vocês estão fazendo aí encima, sei que estão sentindo falta da única mulher da turma pra colocar moral, né? Mas a vida tem dessas coisas e, quando falávamos sobre aproveitar até o ultimo segundo, estávamos falando de nós mesmos, fomos intensos e sorrimos até o ultimo segundo, até o fim, que vai dar lugar ao recomeço, até os setes sorrisos  que morreram pra se eternizarem, a minha saudade só não é maior que a minha gratidão á Deus por ter tido vocês na minha vida, obrigada e fiquem em paz, eu sei que vocês são por mim assim como eu, sempre, serei por vocês! Com muito amor e saudade, a Leninha de vocês!
@augustamcarneiro Sem palavras pra você, que vontade de te abraçar, vem logo pra cá!

@marina_silva Não há o que falar, apenas sentir, fica firme e seja forte!

@userf @carladias Esse é o instagram da sobrevivente do acidente, olha que texto lindo, pqp

@felipecarreras Força, Leninha!

@ceciliaramos TE AMO, LENINHA!

Nem li os outros comentários, devolvi o celular á Pedro e subi pra descansar um pouco.
-P.O.V Helena-
Acabei de desembarcar em Recife, cheguei um pouquinho antes dos corpos, vamos direto para o Palácio onde acontecerá o velório, eu espero estar preparada, já estava nos braços do meu pai pra entrar no carro quando escutamos uma voz
Xxxx: Não é justo chegar e  não me dar logo um abraço, visse?




quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Prontos para o embarque?

Helena: Olá, eu me chamo Helena Monteiro Valadares, tenho 21 anos, sou pernambucana, nascida em Olinda, estou concluindo o curso de jornalismo, filha única, vejo nos meus pais a minha razão de viver e, talvez, por amar tanto assim a dona Monise e o seu Mauro, eu ainda procure forças pra enfrentar as batalhas que vou ter pela frente, eu sei que não vai ser fácil, mas tenho certeza que vou conseguir, Deus vai me ajudar, meus pais e toda a minha família vão estar ao meu lado. Sei que vocês devem estar se perguntando á que batalha eu estou me referindo, né? Fiquem tranquilos, vou contar tudo pra vocês, agora mesmo! Eu, sou a única sobrevivente de um acidente aéreo que matou sete pessoas, por alguns instantes, pensei que também entraria na estatística dos mortos da tragédia, mas Deus me deu essa nova oportunidade, me concedeu o dom da vida novamente, hoje, 14 de agosto de 2014, eu me vejo sem chão, perdi amigos e meu patrão que era como um pai pra mim, Eduardo Campos, pois é, eu estava trabalhando em sua campanha, sonhávamos os mesmos sonhos, desejávamos um país melhor, mas fomos interrompidos por uma tragédia que tirou o meu maior incentivador, aquele que era minha fonte de inspiração, foi cruel e está sendo cruel saber que eu os perdi, mas pior ainda vai ser sair daqui e dar de cara com a realidade, o acidente me fez perder uma perna, a perna esquerda, isso pouco me incomoda, eu estou disposta á lutar pra tocar a minha vida adiante, mesmo sabendo o quanto vai ser difícil. Doloroso mesmo vai ser encontrar com Renata, João, Pedro, Duda, Miguel, Zé, Cecília, tentar explicar o inexplicável, tentar explicar porque eu também não morri, tenho certeza que agora no céu está uma festa enorme, enquanto aqui, nós choramos a ausência de quem tanto nos fez sorrir, mas, a minha fé vai me mostrar os melhores caminhos!
Deu pra me conhecer um pouco? Muita informação, eu sei disso, mas precisava desabafar, precisava colocar pra fora o que estava sentindo e tudo que tenho pensado desde ás 09:50 da manhã de ontem, quando a minha vida resolveu dar uma reviravolta, tudo que estava arrumado saiu do lugar, agora é levantar daqui e tentar arrumar as bagunças que foram feitas.


João: Oi, meu nome é João Henrique, tenho 21 anos, faço engenharia civil e sou filho, homem, mais velho de Eduardo e Renata Campos. De ontem pra cá a minha vida saiu completamente dos trilhos, perdi a pessoa mais importante da minha vida, meu pai, ele morreu em um acidente aéreo, a única sobrevivente foi a Helena, que trabalhava na campanha com ele, os outros faleceram assim como ele. Como vai ser daqui pra frente? Eu juro que não sei, mas tenho pedido á Deus todo instante que me dê forças pra superar essa barra tão difícil.

Helena Monteiro

João Campos