Virei meu pescoço
para trás e vi a Cecília, aparentemente emocionada
Helena: Painho,
me coloque na cadeira de rodas, quero falar com Cecília!- ele fez o que eu pedi e me pôs sentada na cadeira, Cecília se aproximou
de mim, abaixou-se e me olhou, chorando e sorrindo ao mesmo tempo
Cecília: Princesa,
como você tá?- fez carinho na minha
perna amputada
Helena: Vou
começar uma luta de sobrevivência, á partir de hoje, na verdade, desde que tudo
aconteceu- liberei minhas lagrimas e ela
também- E você?
Cecília: Assim
como você, vou começar uma luta de sobrevivência, mas você sabe que temos uma á
outra, né? Vou cuidar de você, assim como Percol me dizia que cuidava, amor,
carinho e a minha amizade não vão te faltar!- segurou minhas mãos e apertou as mesmas- Vai pro velório?- assenti
Helena: O mínimo que
eu posso fazer por todos eles é me despedir, acho que vai me ajudar á entender
e encarar a realidade, vai me fazer perceber que não é um pesadelo que ele,
realmente, se foram!
Cecília: Infelizmente,
a nossa nova realidade está chegando daqui á- olhou em seu relógio de pulso- menos de meia hora, pronta pra
enfrentar?
Helena: Eu espero
estar preparada, mas como você falou, temos uns aos outros, isso já vai ser um
grande passo!
Cecília: Com toda
certeza vai ser mesmo, quer esperar aqui comigo?- alternou seus olhares entre mim e os meus pais, acho que pedindo uma
certa permissão á eles caso a minha resposta fosse positiva
Mauro: Eu acho
melhor não, vamos logo pro Palácio, é melhor você chegar antes do tumulto,
filha!- fez carinho no meu ombro
Helena: Pai, eu
quero esperar aqui, por favor, prometo que só te faço mais esse pedido hoje!- escutei minha mãe sorrindo, ela me conhece
bem e sabe que essa minha promessa andou longe de ser verdade
Mauro: Sem mais
pedidos por hoje, Helena, por favor!- rimos-
Podemos ir indo pro Palácio?- olhou
pra Cecília
Cecília: Podem
sim, Helena fica comigo, eu cuido dela direitinho, tá? Não se preocupem!- piscou pros meus pais
Helena: Vamos pra
sala em que estão todos esperando?- veio
para trás da minha cadeira, obviamente ela iria empurrá-la
Cecília: Vamos
sim, eu só vi vocês porque saí pra beber água, vamos?- assenti, me despedi dos meus pais, eles entraram no carro, saíram e a
Cecília me levou até porta de uma sala vip que havia no aeroporto
Helena: Cecília,
espera um pouco, por favor!- pedi antes
que ela pudesse abrir a porta da sala
Cecília: Que foi,
minha princesa, está sentindo alguma coisa?- se abaixou me olhando preocupada
Helena: Não sei
se tô preparada pra enfrentar todo mundo, como eu vou explicar pra Renata que
eu fiquei? Como vou falar pra Zé que eu não fui com o pai dele? Logo pra Zé que
sempre dizia que eu era a companheira inseparável de Eduardo, eu não tenho
força pra isso, Cecília, não tenho!- desabei
mais uma vez, a porta da sala foi aberta, eu vi Augusta saindo da mesma e me
surpreendendo com um abraço, eu não conseguia falar nada, apenas chorar
Augusta: Porque
ela tá chorando assim, Cecília? Calma, Leninha!
Helena: Eu não
vou conseguir entrar, não vou conseguir encarar todos eles, não vai dar!
Cecília: Calma,
Helena, ninguém vai te julgar, todos sabem que são os planos de Deus, vamos
entrar, Renata está ansiosa pra te dar um abraço, seja forte!- as duas enxugaram minhas lagrimas e ficaram
fazendo carinho nas minhas mãos- Pronta pra entrar?
Helena: Guta- olhei pra Augusta- fica do meu lado,
por favor, não me deixar sozinha e, desculpa, eu sei que era pra mim ter ido
também, eu queria ter ido com eles, desculpa por não ter cuidado deles até o
final, desculpa!
Augusta: Helena,
para com isso, você não teve culpa do que aconteceu, ninguém vai te julgar e,
pode entrar tranquila, eu não vou sair do seu lado, vou ficar sempre juntinha
de tu lá dentro, visse?- enxugou algumas
lagrimas que ainda escorriam pelo meu rosto- Cecília pode abrir a porta?- assenti, Cecília abriu a porta e Guta
empurrou minha cadeira, entrei na sala de olhos fechados, eu não queria
encará-los, não sabia o que eu ia falar, só me restava pedir desculpa- Abre
os olhos, Leninha, tem muita gente aqui querendo te abraçar!- abri meus olhos lentamente e, foi o
suficiente pro meu olhar se cruzar com o olhar de Pedro, nunca tinha visto ele
com um olhar tão triste
Pedro: Eu queria
tanto te dar um abraço, te falar que você pode contar comigo pra tudo, eu vou
estar do seu lado e você vai seguir em frente, tá? Todos nós vamos cuidar de
você!- ele beijou a minha testa e se
abaixou na frente da minha cadeira
Helena: D-d-d-d-des-culpa,
Pedro, eu não queria, não era pra isso ter acontecido, desculpa, por favor, me
perdoa!- pedi desesperadamente
Pedro: Porque tu
estais me pedindo desculpa, Helena? Desculpa por ter nos dado a alegria de
ainda estar aqui entre a gente? Não perca seu tempo pedindo desculpa, use esse
tempo para agradecer, agradecer porque você estar viva, assim como nós
agradecemos porque você está entre a gente, para de se culpar por algo que não
teve um culpado, por favor!
Helena: Era pra
mim ter ido com eles, eu prometi á sua mãe, prometi á Cecília, prometi que
cuidaria deles e deixei eles irem, eles foram e eu fiquei, Pedro, foi uma falha
minha, eu não poderia ter ficado, não poderia!
Renata: Minha
princesa, uma filha minha e de Eduardo, era e agora mais do que nunca vai ser
um exemplo de força pra todos nós, ninguém te julga muito menos te culpa, você
cuidou muito bem de Eduardo, de Percol e de todos eles, você foi feliz com eles
e fez com que eles fossem felizes com você, não existe um culpado, existe um
plano de Deus, fique tranquila, ninguém aqui te julga, nós apenas te amamos e
prometemos que vamos estar do seu lado, sempre!- sabe aquela vontade imensa de levantar e abraçar essa mulher
maravilhosa? Infelizmente, eu não posso, mas acho que posso pedir um abraço,
né?
Helena: Me dá um
abraço, por favor, só peço isso pra senhora!- ela riu, enxugou minhas lagrimas e me abraçou como pôde
Renata: Nós te
amamos tanto, minha pequena, tenho certeza que Dudu está feliz e que vai ser
teu anjo lá encima, ninguém vai cuidar tanto de você quanto eles, fique ciente
disso e sem culpas, todos te amavam!
João: Mainha tem
toda razão, Leninha, nós te amamos e vamos estar sempre do seu lado, sempre
mesmo!- eu sorri fraco pra ele e recebi
um beijo demorado na testa- Posso dar um abraço também?
Helena: Pode sim,
João, quer dizer, pode não, deve!- rimos
e ele me deu um abraço apertado, tão parecido com o pai, acho que a
personalidade é a mesma- Zé?- chamei-o,
ele estava encolhido numa cadeira, no cantinho da sala- Vem me dá um abraço? Eu preciso que você me
perdoe por ter quebrado a nossa promessa!- ele
levantou e veio até mim
João: Que
promessa?
Helena: Eu
prometi á Zé que cuidaria de Eduardo, que todas ás vezes iria trazer ele de
volta pra casa, era assim que a gente fazia quando chegava no aeroporto, a
passagem por Dois Irmãos já era certeza, eu tinha que dar carona pra Dudu- sorri ao meu lembrar de como a nossa rotina
era perfeita, que saudade, meu Deus! Zé me deu um abraço
Zé: Você cuidou
dele enquanto pôde, Helena, agora, eu tenho certeza que painho vai cuidar de
você, eu te amo!- ele ficou ali do meu
lado, sempre me fazendo carinho, um carinho tão bom, tão igual ao pai também,
todos eles tem um pouquinho de Eduardo, é incrível. As outras pessoas que
estavam na sala vieram me cumprimentar a espera por esses aviões estava me
torturando, peguei meu celular, minha única tentativa de passar o tempo, abri
minha galeria e comecei á relembrar momentos, foi impossível conter algumas
risadas, foram tantos momentos, tantas alegrias, é tanto pra agradecer, meu
Deus! Escolhi uma foto minha e de Percol, resolvi escrever algo pra ele também,
resolvi postar, estou com saudades, preciso me expressar
helena_monteiro “Tchinha, bora tirar uma foto?”
ele sempre me pedia uma foto, eram as fotos enviadas pra Cecília e para meus
pais, todos os dias tínhamos essa mesma obrigação, uma foto. Agora, me vejo
aqui com milhares de fotos e sem saber o que fazer com todas elas, cada uma com
uma saudade diferente, cada uma em um lugar diferente, os sorrisos tinham
motivos diferentes, todos os dias a gente ganhava um motivo á mais pra sorrir, “tchinha,
vou falar pra outra tchinha que nós estamos bem, felizes e com o futuro
presidente da Republica”, você falava isso e olhava pra Eduardo, arrancava
nossas melhores gargalhadas com essa sua positividade, com uma perseverança e um
otimismo que
causava inveja em muita gente, você pensava pra frente e só andava pra frente,
era incrível, eu te falava tanto que quando crescesse queria ser como você e
Cecília, os melhores jornalistas, você prometeu que entraria comigo na minha
missa de formatura e Eduardo brincou com a gente “O painho de tchinha vai se
arretar, visse?” nós dois gargalhamos e você se gabou, disse que eu te amava, é
meu amigo, você não mentiu, eu te amava e ainda te amo, tô aqui á dias tentando
entender a tua ausência, tentando compreender que você está em um lugar melhor
e ao mesmo tempo pensando que o melhor lugar era aqui. Você e Cecília. Você e
eu. Você e nós, qualquer lugar do mundo que eu ainda tivesse o seu sorriso e a
sua amizade seria o melhor lugar do mundo pra mim. Cuida de mim, meu anjo, as
suas tchinhas vão cuidar uma da outra aqui, visse? Te amo, minha maior saudade!
Com amor, a tchinha Helena.
Evitei ler os
comentários, fui confortada por um abraço de Cecília, ela sentou em uma cadeira
ao meu lado
Cecília: Ele
amava a maneira como você escrevia, era apaixonado pela tchinha Helena, sabia? Tenho
certeza que sorriu ao ver suas palavras, era tanto amor!
Helena: Eu sinto
que ele sorriu, eu também era apaixonada por ele, um exemplo pra mim, eu amava
seu marido!- nós duas sorrimos
Eduarda: Era impossível
não amar Percol, tava sempre ao lado de painho!- se juntou á nós e ficou me fazendo carinhos, eu me sentia tão amada por
eles, meu Deus. Meu celular apitou, peguei o mesmo e vi uma notificação do
instagram, a Cristina havia me marcado em uma foto, olhei-a, já que ela também
estava na sala e ela sorriu
Cristina: Foi com
muito amor- assenti e li o que ela havia
escrito
cristina40mello Quem escuta o seu nome já
imagina ver você sorrindo, quem vai até a sua casa sabe que vai te encontrar
sorrindo, você sempre foi teimosa, sempre lutou pelo que desejava, sempre encantou á todos com seu jeito único e sua
personalidade sem igual. No momento do acidente nós imaginamos oito percas,
passamos á imaginar nossas vidas sem o sorriso de Helena, eis que surge você
com toda a sua teimosia, o nosso presente de Deus, o nosso conforto em meio á
tantas dores, você conseguiu, nós ainda te temos, um sorriso restou, o mais
encantador, sem duvidas. Nós sabemos que a sua batalha não vai ser fácil, vai
ser dolorosa, cruel, mas repleta de muito amor, muito companheirismo e de muita
determinação, estaremos sempre ao seu lado, não importa o que aconteça, conte
com o nosso apoie e com nosso amor. P.S: as crianças querem cuidar de você. Te amamos
muito! @helena_monteiro
@helena_monteiro Eu não tenho palavras pra
vocês, eu sempre vi apoio em você, em Geraldo e, nos meninos via meus
sobrinhos, minhas crianças, é tão bom saber que vocês estão comigo nesse
desafio, não vai ser fácil, mas se vocês vierem comigo, eu vou vencer! Amo muito
vocês!
Comentei a foto de Cristina e fomos informados que os aviões haviam
chegado, nos preparamos para o desembarque dos caixões e foram saindo pra pista
de pouso
Cecília: Tem
certeza que quer ir, Leninha?- perguntou
ao se levantar pra empurrar minha cadeira
Helena: Essa
pergunta serve pra você também, né? Nós precisamos ir e temos obrigação de
sermos fortes!- ela riu fraco e nós saímos
da sala, seguimos as instruções até chegarmos na pista de pouso, os caixões já
estavam sendo retirados- Vai lá, Cecília, vai receber Percol, nem que seja
pela ultima vez, eu fico aqui no cantinho!- ela soltou minha cadeira e fez o que eu pedi, fiquei observando a cena,
acho que eu nunca vi cena mais triste em toda a minha vida, eu nunca senti
tanta dor, um arrepio percorreu meu corpo só de imaginar que um desses caixões
poderia ser o meu, que eu era a única sobrevivente, alguém fez carinho no meu
ombro, dei uma olhada e vi Guta chorando- Não se preocupe comigo, vá ficar
ao lado de Pedro, ele precisa de você, Gutinha, eu tô bem aqui!
Augusta: Eu sei
que não, Helena, eu te conheço essa pose não vai combinar comigo, eu vou ficar
aqui com você, tem muita gente com Peu ali, ele tá mais calmo, quer ir pra lá?-
apontou pro carro de bombeiros onde
estavam colocando o caixão de Eduardo
Helena: Melhor
não, eu só vou causar tumulto ali, atrapalhar, pode ir ficar lá com eles, eu tô
bem, te juro!
Augusta: Se você
não quer ir pra lá, eu fico aqui com você, pronto!- eu dei um risinho fraco por conta da insistência dela, ficamos ali,
observando de longe até a hora da saída dos carros quando João se
aproximou da gente
João: Helena,
você vai no carro do corpo de bombeiros com a gente, vamos?- assenti, esperava que ele ou Augusta
empurrassem minha cadeira, mas ele me surpreendeu me pegando no colo- Assim
é mais rápido- fez carinho no meu cabelo
Helena: Eu
deveria ter ido com meus pais, fiquei aqui só pra dar trabalho, né?- ele não falou mais nada, olhei pra trás e
vi Guta empurrando minha cadeira de rodas, João me colocou sentada ao lado de
Renata, dentro do carro do corpo de bombeiros e, ao me ajudar á pôr o cinto de
segurança deu um beijo demorado na minha testa
João: Coloca uma
coisa na sua cabeça, cuidar de você não é trabalho nenhum e, você ter ficado
aqui fez um bem danado pra todos nós, viu baixinha?